Jean Ziegler: Dez grupos controlavam, no ano passado, 85% de todos os alimentos negociados no mercado mundial. Entre eles a Cargill, Bunge, Nestlé, Dreyfus Brothers, Archer (Daniels) Midland. A Cargill, que tem sede em Minnesota, detém 31,2% de todo o trigo comercializado no mundo. Controlar significa ter os meios de transporte, os silos para armazenar etc. Eles dominam a formação de preço, naturalmente, e decidem concretamente, a cada dia, quem vai comer e viver neste planeta e quem vai passar fome. 0 problema é de acesso.
CA: Esses alimentos “comercializados” são aqueles que se tornaram commodities?
Sim. O núcleo são os que chamamos alimentos de base: milho, arroz e trigo, que cobrem 65°/o do consumo mundial. A soja também, mas os mais importantes são esses três, que vão diretamente para o consumo humano. A soja vira ração. Também a Cargill tem posição dominante na produção mundial de carne. Há centenas de abatedouros no mundo, ela tem toda a cadeia. Sempre verticalmente organizada. Essas multinacionais têm uma organização vertical, da plantação de trigo até o consumidor final e controlam tudo.
São essas mesmas empresas que agora estão desenvolvendo os transgênicos...
Naturalmente. 0 relatório do Banco Mundial mostra a ditadura das 500 multinacionais que controlam tudo, as 500 mais importantes nas áreas de química, alimentos e bancos. Depois, setorial- mente, há umamonopolização extraordinária na produção de alimentos de base e na produção de sementes e adubos, como a Monsanto. São seis empresas que dominam praticamente 90% do setor.
0 senhor fala dessas empresas, que formam uma cadeia. Como a gente foge disso? Porque hoje, o que os liberais diriam, é que sem essas empresas não seria possível produzir alimentos para todos.
Isso é a guerra ideológica. Naturalmente é totalmente falso. Vamos discutir mais amplamente. Essas sociedades são muito eficientes. Elas dominam a formação dos preços no mercado mundial. Existe hoje 1,2 bilhão de pessoas no mundo, um sétimo da população mundial, que é extremamente pobre, que vive com 1,25 dólar por dia. Que vive nas favelas, não produz e precisa comprar sua alimentação diária. Quando, por causa da especulação nas bolsas,
0 milho sobe, - e nos últimos dois anos ele subiu 63°/o, a tonelada de trigo dobrou e o preço da tonelada de arroz das Filipinas subiu de 100 dólares para 1,2 mil nas favelas do mundo os preços explodem; nas favelas do mundo as mães não podem comprar.
Há alimento, mas as pessoas não têm renda para comprá-lo, é isso?
Não têm renda! E esse número de mais de 1 bilhão de pessoas é estável, não muda. Nos últimos anos, apenas Brasil e a China tiveram um formidável progresso. A fome é calculada de duas maneiras. Em número absoluto de vítimas e pela porcentagem da população. No Brasil, em 20 anos (de 1990/91 a 2010/2012), as vítimas de fome baixaram de 23 milhões para 13 milhões. Em números absolutos, caíram 40,4%, o que é extraordinário e só comparável com a China, onde os famintos diminuíram de 254 milhões para 158 milhões. Uma baixa de 37,6%. Em 1991, no Brasil, ao menos 15% da pode 4b,Ju/o. tm toüos os demais países a fome aumentou. No mundo, em 1992, 1 bilhão de pessoas morreu por fome. Hoje, são 867 milhões.
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