segunda-feira, 19 de novembro de 2012

José Pacheco, criador da Escola da Ponte, fala sobre educação



Não existe um modelo padrão de ensino. Cada escola deve se organizar para atender a seus alunos. Quem defende a ideia é o educador José Pacheco que, por mais de 30 anos, dirigiu a inovadora Escola da Ponte, em Portugal, onde o aprendizado é pautado pela confiança entre estudante e professor: não há salas de aula tradicionais, grade curricular ou provas. Os bons resultados da instituição dão a Pacheco autoridade para questionar o método de ensino atual. Na era das redes sociais, ele defende o compartilhamento do conteúdo escolar pelos alunos, levando a uma construção coletiva do saber. O educador também classifica como “miserável” a formação dos professores no Brasil.



— Nada acontece de diferente quando a teoria antecede a prática. É preciso uma ruptura com os modelos convencionais, em busca de uma nova escola, que se organize em torno dos valores que unem as pessoas atendidas. A escola não é um edifício, mas um espaço social — comenta o português, que participará do Conecta, evento sobre novas tecnologias e educação, que ocorre quarta e quinta-feira, no Rio.
Pacheco é um dos idealizadores da Escola da Ponte, na pequena Vila das Aves, a 30 quilômetros do Porto. Na instituição, os alunos se agrupam de acordo com sua área de interesse. Não há divisão por séries. Monitorados por professores, o estudante faz seu plano de metas baseado no conteúdo sugerido pelo Ministério da Educação. A metodologia ganhou fama global. Encantado, o escritor e educador Rubem Alves escreveu trabalhos como “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” (2003). Cerca de cem instituições no Brasil mudaram para, de certa forma, seguir o exemplo.
O próprio Pacheco está envolvido numa iniciativa que segue essas premissas, em Cotia (SP). Com 440 alunos, cujas famílias têm rendas de até três salários mínimos, o Projeto Âncora serve ao pré-escolar e ao ensino fundamental, sem turmas definidas. O aprendizado se dá conforme o interesse dos alunos, que assimilam o conteúdo e o compartilham no ambiente escolar.
— É um trabalho de formiguinha. Na implantação do projeto, rejeitamos tudo que não interessa. Aulas e séries são um obstáculo para o crescimento humano — diz ele.
Os resultados, segundo Pacheco, são animadores. Alunos marcados pela exclusão recebem atenção que nunca tiveram. Em seis meses, crianças analfabetas aprenderam a ler, e os professores embarcaram na novidade.
Mas o educador se mostra preocupado com o quadro geral do ensino no Brasil e no mundo. Na opinião dele, os métodos em voga estão obsoletos desde o fim do século XIX.
— Basta dizer que, no Brasil, esse tipo de educação dá origem a 24 milhões de analfabetos funcionais. Não adianta ser a sexta economia do mundo, quando se ocupa os últimos lugares em rankings de educação — critica Pacheco, para quem o despreparo das escolas fica latente diante de questões atuais como o bullying. — Muitas escolas suspendem ou expulsam alunos, instalam câmeras de segurança. Deveriam ser adotadas novas formas de diálogo.
Para resolver esse problema, diz ele, é essencial investir na formação de educadores:
— A formação de professores no Brasil, não hesito em dizer, é miserável. Parte de princípios errados, como aquele de que a teoria pode anteceder a prática. Não adianta colocar jovens na faculdade e enchê-los com teorias ultrapassadas. Eles perpetuarão esse modelo.
Pacheco diz que a renovação deve englobar a forma como as recentes tecnologias são aplicadas no ensino. Em tempo de redes sociais, não basta apenas introduzir computadores e mudar o velho quadro-negro pelo monitor digital.
— Mesmo nos EUA e na Europa, o modelo convencional de educação continua. As novas tecnologias contribuem para a mesmice, quando deveriam proporcionar o compartilhamento de conteúdo entre os alunos. Se as escolas entenderem isso, podem migrar de um modelo em que os estudantes são como papagaios repetindo a lição para um ambiente onde ocorra, de fato, a construção do saber — diz o educador. — Os jovens precisam ser incentivados a reconstruir uma sociedade doente e usar as tecnologias para fazer isso criticamente. Noto que essas ferramentas contribuem para que os alunos se tornem solitários. Isso é uma regressão


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

La Educacion Prohibida - Película Completa (com legenda em português)



Este filme fala sobre a educação que liberta, que faz pensar. Discute e dialoga com ideias contra e a favor a este tipo de educação e ilustra o motivo que leva a maior parte das crianças e jovens de todo o mundo a vivenciarem, no seu dia a dia, uma educação que os trata como uma máquina de decorar e reproduzir. Os sentimentos de angustia, frustração e insatisfação do professor e daqueles que lidam com a educação também são abordados. Confira este documentário, você vai gostar.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Reiventando a Educação. Diversidade, descolonização e redes


Recomendamos a leitura do novo livro do filósofo e pensador brasileiro em Mídia e Pedagogia, Muniz Sodré (2012), "Reiventando a Educação. Diversidade, descolonização e redes". São Paulo, Editora Vozes.
Aproveitamos para publicar a entrevista que Sodré deu ao programa Roda Viva, imperdível.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

As influências da mídia - Instituto Alana entrevista Raquel Pacheco


Pesquisadora fala sobre influência da mídia na formação da identidade de jovens e da importância da educação para e com as mídias 

Raquel Pacheco é doutoranda e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e Licenciada em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Coordena o projeto "Media e Literacia" - é membro do Centro de investigação Media e Jornalismo, em Portugal. É professora universitária em Reportagem e em Educom (Educação e Comunicação). É integrante da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo e já divulgou as ações do Instituto Alana em Luanda, Angola, onde residiu, em Portugal e agora está no Rio de Janeiro.

Criança e Consumo – Em seu livro "Jovens, Media e Estereótipos" você faz uma análise sobre construção da identidade dos jovens pelos meios de comunicação e as implicações disso. O que te levou a fazer essa pesquisa? Quais foram os principais resultados que encontrou na sua investigação?

Raquel Pacheco – Sou do Rio de Janeiro e desde pequena me sentia incomodada com a maneira com que as crianças e os jovens pobres eram tratados socialmente. Na maior parte das vezes, tínhamos que ter cuidado ao andarmos na rua e cruzarmos com um jovem negro e pobre. Era melhor mudar de calçada, ou então corríamos o risco de sermos assaltados. Ficava pensando como deveria ser ruim estar na pele daquelas crianças e jovens, sempre vistos como marginais. No Rio temos a sensação de que só os jovens pobres, moradores de favelas e de preferência negros é que cometem crimes. Depois que assisti ao filme "Cidade de Deus" e acompanhei toda a polêmica entre seus realizadores e o rapper MV Bill, senti definitivamente que deveria conduzir minha investigação por este caminho.

Comprovei aquilo que já imaginava. Existe o estereótipo da imagem do jovem que é "vendida" pela mídia: jovem, branco, de classe média alta/rico. Na maior parte das vezes é explorada sua imagem feminina. Este modelo vende a juventude como um estilo de vida, é a imagem de glamour da juventude. O outro estereótipo é aquele em que o jovem assume uma postura ameaçadora, de criminoso ou deliquente. Normalmente este grupo é composto por jovens pobres, na maioria das vezes não brancos e do sexo masculino. Estes jovens possivelmente têm sua imagem associada à bandidagem, ao tráfico, não são pessoas bem quistas e devem estar restritos ao seu gueto que é a favela. Este jovem não corresponde às necessidades do mercado do "ter": ele é pobre, preto, não é nada, e, normalmente quando há referências na mídia a este tipo de jovem, ele é tratado por menor, delinquente, infrator.

CeC – Você pode explicar o conceito de culturas juvenis que utiliza na sua pesquisa e porque da importância do plural dessa expressão?

Raquel Pacheco – No sentido lato, por cultura juvenil pode entender-se um sistema de valores socialmente atribuídos à juventude (tomada como conjunto referido a uma fase da vida), isto é, valores a que aderirão jovens de diferentes meios e condições sociais. Assim sendo, concluímos que não existe apenas uma cultura juvenil, mas sim várias culturas juvenis. Quando pensamos que o plural de duas palavras pode mudar o modo como encaramos a nossa juventude, isso faz toda a diferença. Quando falamos em cultura juvenil, restringimos a juventude a uma massa compacta e homogênea. Quando percebemos que existem diversas culturas juvenis, acreditamos na diversidade da juventude, abrimos possibilidades para a pluralidade que é a juventude. No livro "Cidade Partida", de Zuenir Ventura, consegui distinguir mais de cinco diferentes culturas juvenis em Vigário Geral. Existem os jovens que conseguem ir para a universidade, os que muito jovens são pais de família, existem as jovens que são mães, os que dão aulas para crianças, os que formam associações de direitos humanos, músicos, traficantes.

CeC – O que é Educomunicação? Que contribuições o trabalho com jovens por meio da educomunicação (ou como você usa em seu livro, "media-educação") tem a dar à construção democrática da imagem desse grupo social? Em que esse trabalho difere da educação formal que é praticada nas escolas?

Raquel Pacheco – A Educomunicação (ou educação para os media ou mídia educação) é um nome novo para uma forma antiga de educar e de ser educado, mas de maneira mais democrática. Explico: estamos educando e sendo educados através dos meios de comunicação social. Lembro de perceber muitas coisas e pensar sobre tantas outras enquanto assistia ao programa de televisão "Balão Mágico", ou "As aventuras de Tio Maneco", ou o "Sítio do Pica Pau Amarelo". Lembro que desde muito pequena adorava acompanhar as novelas junto com a minha empregada, quantas coisas aprendi nas telenovelas. Mas hoje em dia temos ainda a internet, a publicidade a todo vapor. Percebemos então que tínhamos que utilizar a mídia a favor da educação, educar com, para e através dos meios de comunicação. A Educomunicação promove uma junção entre a mídia, o que aprendemos ou vemos através dos meios de comunicação social e a realidade dos grupos com que trabalha – crianças e jovens, por exemplo. Utilizamos os meios de comunicação para analisar, aprender, dialogar e re-construir as diferentes realidades. José Outeiral diz que a escola pode sustentar o desejo, o sonho e a utopia. Não só das mães como dos adolescentes e dos professores. Deve ser um lugar que ensine a pensar – o autor sugere que as crianças chegam às escolas e não pensam. Pensar, diz, surpreende o pensador. Pensar é transgredir. Pensar é fundamental. A escola pode ensinar também a brincar… é mais ou menos assim. Essas palavras são muito importantes para mim e acredito que o caminho para a escola renascer, ou uns dos caminhos, é através da Educomunicação. Ensinar a pensar é a ideia número um dentro deste novo conceito de educação. Através dos projetos de Educomunicação que coordeno, pude perceber que crianças, jovens e adultos descobrem ferramentas dentro de si para lidar com as suas realidades, deixam de ser sujeitos passivos, espectadores de suas próprias vidas e dão um salto, aprendem a pensar, a dialogar, a refletir, a analisar e a produzir.

CeC – Na sua visão, a sociedade de consumo e os padrões de comportamento consumista colaboram com a glamorização da violência nos media?

Raquel Pacheco – Sim, essa pergunta complementa aquilo que dizia na primeira questão. Observamos também que o jovem tem necessidade de sair dos lugares marcados pelo cinema sensacionalista, pelas notícias dos noticiários televisivos, enfim, pela mídia de maneira geral. Todos têm necessidade de auto-estima, de afirmação, mas nem todos têm condições sócio-econômicas para corresponder ao que é esperado e esta desigualdade constantemente é descontextualizada na mídia.
Um jovem português que participou do projeto que cito no meu livro dá um depoimento no vídeo em que diz que: "Uma pessoa que não tem tv a cabo, um carro, gás canalizado (…), não é pessoa". O tratamento diferenciado que é dado ao jovem de uma determinada classe social e o que é dado ao que é de outra produz um processo de mutilação da auto-estima. Acontece uma desvalorização do sujeito, pois já que não pode corresponder aos valores implícitos socialmente, sente-se inferiorizado. Não é o fator econômico que gera a violência, mas a apatia da sociedade, enquanto grupo, em relação aos problemas envolvendo esses jovens vulneráveis.

As pressões exercidas por uma imagem dominante que corresponde à ideia positiva de jovem rico, esperto e feliz, que é constantemente reforçada pela mídia, faz parte da sociedade de consumo que vivemos e cria necessidades de posse de objetos, de status e de uma aparência que normalmente não corresponde à realidade. As diferenças existentes nas formas de adquirir esses bens de consumo e essa estética "juvenil" acentua a desigualdade e demanda uma recusa da subordinação da "ordem social", gerando algumas vezes graves problemas sociais, principalmente os que envolvem drogas e violência.

CeC – Na sua opinião, em que diferem as relações de consumo na construção de identidades dos jovens nos países em que já desenvolveu trabalhos, como Brasil, Portugal e Angola?

Raquel Pacheco – Ousaria dizer que não difere em quase nada, ou em muito pouco. Analisando as relações de consumo associadas à construção de identidades, percebo que aquilo que é bom para os jovens, tanto no Brasil como em Portugal ou Angola, é aquilo que está na mídia. A moda é ditada pela publicidade, pelo que vem de "fora", que depois é adaptado à realidade local. O que se come, o que se bebe, o que se veste ou a música que os jovens ouvem, tratando-se destes três países de língua portuguesa é tudo muito parecido. Existe uma homogeneização cultural onde o jovem perde cada vez mais a ligação com a sua cultura, com a cultura de seu país e se liga a uma cultura globalizada, uma cultura de massa. A Hannah Montana, Miley Cyrus, são bons exemplos disso, que deveria ser para jovens, mas na verdade foi fabricada para entreter crianças. É um ícone tanto no Brasil como em Portugal e em Angola. Não há uma menina dos 5 aos 11 anos, em um destes três países, que não conheça ou possua pelo menos um produto relacionado a Hannah Montana. Hoje em dia os filmes produzidos em Angola por jovens são filmes em sua maioria de violência, baseados, segundos seus realizadores, nos filmes de violência brasileiros e norte-americanos.

CeC – Qual a importância de fazer parte da Rede de Trabalho do Projeto Criança e Consumo para seu trabalho?

Raquel Pacheco – É sentir que não estou sozinha, que no deserto tem postos de socorro. O Projeto surgiu para o meu trabalho como um sopro de ar puro. Sentia muitas vezes que as pessoas estavam mergulhadas nesta inversão de valores, neste capitalismo selvagem, onde o que vale e o que fala mais alto é o dinheiro, é o ter. Sentia que somos massas de manobra a favor do capital. E que a publicidade era o porta-voz do capitalismo. Querem dizer o que devemos comer, vestir, ouvir, onde devemos ir e até o que pensar, pior do que isso, querem fazer o mesmo com as nossas crianças. O Criança e Consumo surge como um divisor de águas, cada newsletter ou publicação é uma vitória, é como se fosse a resposta do ser contra o ter. A rede de trabalho é a cereja em cima do sorvete, é como se dissessem: "Ei, vocês, que querem mais para nossas crianças, que não querem que elas sejam meros cifrões, vocês que trabalham contra isso, que tem princípios diferentes dos princípios do ‘mercado’, venham para cá formar esta rede de trabalho".
Veja a reportagem na íntegra em:

Artigo publicado na revista "Olhar de Professor"

OLHAR DE PROFESSOR, VOL. 14, NO 1 (2011)

NÓS TAMBÉM TEMOS VOZ: DINÂMICAS E MOVIMENTOS EM ANÁLISE.

Raquel Pacheco

RESUMO

Este artigo baseia-se no trabalho de campo desenvolvido durante pesquisa realizada numa escola pública na cidade de Lisboa. Utilizamos o cinema como meio para reflexão sobre a violência, cidadania e juventude. Nossa intenção foi tentar perceber, através de alguns filmes, por um lado o movi- mento que ocorre quando o cinema de ficção aborda a temática da realidade de crianças e jovens pobres e excluídos, trazendo a vida destes jovens para as telas; por outro lado, a visão que os jovens têm destes filmes, utilizando o cinema como meio para que eles pudessem se sentir estimulados para externalizar o que pensam, sentem e veem. Para entendermos o olhar dos jovens, desenvolvemos uma pesquisa etnográfica, durante seis meses, e utilizamos como “campo” uma escola secundária situada dentro da zona urbana de Lisboa. O objetivo dessa investigação foi perceber como os jovens se veem e pensam ser vistos pela sociedade (o que inclui o cinema, as mídias etc.) da qual fazem parte. Foi utilizado como ferramenta de registro de pesquisa, por parte da autora, um “diário de bordo” retratando o dia a dia na escola. A filosofia deste trabalho de campo baseia-se na pedagogia dialética de Paulo Freire. É através do diálogo problematizante desenvolvido principalmente após a exibição de filmes, nas aulas e nos encontros, de uma maneira geral, que estimulamos o questionamento e a problematização, e a partir de questões, opiniões e ideias realizamos um vídeo. Através da educação para, com e sobre as mídias, utilizamos conceitos de comunicação, educação e participação, trabalhando temáticas relacionadas ao dia a dia destes jovens. O produto final deste projeto foi um documentário em que os alunos foram os protagonistas em todas as etapas de realização: da pré-produção à finalização.
Texto Completo em PDF 

Euromeduc - Bélgica (Encontro da CE de Midia e Educação)





When youth has a voice: An ethnographic 

research about media and youth

Raquel Pacheco (Portugal) I’am an investigator and a teacher in media education. The essay developed on my master´s degree was concluded in the University Nova de Lisbon and it is called “When young have voice. An ethnographic research about the media and youthful cultures”. I was invited by the teacher Vitor Reia-Baptista (Euromeduc in Portugal - Universidade do Algarve) to participate in this seminar. The teacher told me about the possibility to have a bursary of participation; therefore I would like to apply for that.
Ines Camara (Portugal) University professor in the media and marketing fields. I’m currently developing a project about media and schools. I’ve done some research projects about media consumption and marketing as a private consultant.
When youth has a voice: An ethnographic research about media and youth - presented at the Brussel seminar of Euromeduc the monday 17 november.

Escola da Ponte em Portugal - Uma experiência única

Assembléia Semanal dos Educandos: Participação e Expressão 
Sala de Aula: Espaço e Tempo para o Conhecimento e a Partilha
                                                 REGISTRO DA VISITA :)